Canelas é uma
freguesia do concelho de Arouca desde o ano de 1843,
tendo pertencido até esta data ao extinto concelho
de Alvarenga. É constituida pelas aldeias de
Gamarão de Baixo, Gamarão de Cima, Mealha,
Vilarinho, Estreitinha, Canelas de Baixo, Canelas de
Cima.
Tem como Padroeiro S. Miguel e pertence
à diocese do Porto, depois de ter pertencido
à de Lamego até ao ano de 1882.
O
passado de Canelas...
TrilobiteDo passado muito remoto Canelas tem
razões palpáveis para se orgulhar da sua
sorte. Os vestígios paleontológicos de
trilobites encontrados na exploração das
lousas, são fósseis de animais marinhos
que viveram no mar da época há cerca de
490 milhões de anos.
Estes achados são pela sua riqueza científica,
o fenómeno mais raro desta terra.
Hoje é considerado que Canelas
possui as maiores trilobites do Mundo.
De um passado mais recente existem
vestígios de uma ocupação Romana
ao longo do "complexo xisto-Grauváquio"
onde exerceram forte actividade mineira, que se comprova
pelas inúmeras minas existentes, e que se destinavam
à exploração de ouro, destacando-se
as minas da "Gralheira D'água " e as
da "Ribeira de Mealha" em ambos os locais
se encontraram pequenas mós manuais de granito
destinadas a triturar as rochas, esta actividade terá
sido exercida desde o séc. I d.c. ao séc.
111 d.c.
Mais recentemente, mas ainda anterior à nossa
nacionalidade existem documentos que referenciam o lugar
de " Vilarinho " nesta Freguesia de Canelas
datados do ano de 883.
Em Canelas foi proprietário Moço Viegas,
filho do Aio e grande amigo da ordem do templo, à
qual deu aqui propriedades em Setembro 1139, Moço
Viegas doou a Ermígio Viegas seu segundo primo,
por ser filho de Egas Ermiges, metade da Vila Agrária
de Canelas, no «território lameceuse subtus
mons fuste discorrente sibulo Pavia» que lhe tinham
sido dados por D. Afonso Henriques.
Terá sido nesta época
que Canelas se afirma, e terá roteado as suas
pobres terras agrícolas, mas que foram suficientes
para a sua subsistência até aos nossos
dias.
Em 1201 foi feita ao mosteiro de Arouca
doação de uma herdade do Toiral, esta
Quinta do Toural foi até meados do séc.
XX a mais rica e influente de toda a freguesia. Isolada
e fechada sobre si mesma há quem a tenha considerado
um fendo, auto suficiente.As suas extensas terras, o
gado, a castanha e o vinho contribuíram para
um evidente acumular de riqueza.
Fizeram história nesta Quinta a tentativa de
assalto da quadrilha do "Zé do Telhado"
em meados do séc. XIX. Chegaram até aos
nossos dias os relatos que levaram ao esconder da fortuna
no estrume do quinteiro, enquanto os proprietários
se refugiavam em moreias de palha.
Logo depois a luta de influências movida pelos
seus donos, junto do Conde de Paiva para afastar dos
seus domínios a estrada projectada entre Castelo
de Paiva e Alvarenga e que segundo estes traria novos
assaltantes a esta Quinta.
D. Simões Júnior nos seus subsídios
para a monografia de canelas também diz: Foi
um Curato muito pobre, pelo que em 21 de julho de 1784
o Dr. João Baptista de Pinho Ferreira, visitador
pelo Bispo Dom Manuel de Vasconcelos, capitulava: «Esta
Igreja é um curato anual, cuja apresentação
e dízimas pertencem à Universidade de
Coimbra, de tão ténue, côngrua que
em todos os anos obriga a algum sacerdote para aceitar
a cura da mesma Igreja»
No dia 31 de Maio de 1847, deixou marcas
uma horrenda matança levada a cabo pelas tropas
sobre o comando do Conde de Casal, que ao passarem na
estrada da recosteira, desceram ao Lugar de Cima e aí
mataram dois homens matando mais dois junto ao sítio
dos Galinheiros, nessa ocasião também
morreu um militar que foi sepultado junto da Tapada
do Campêlo.
Teve
grande importância no futuro de Canelas a descoberta
do filão das lousas no ano de 1820 por Manuel
da Costa, uma monografia publicada na gazeta de Arouca
no ano de 1909 sobre Canelas pelo professor Pinto de
Madureira que diz "calculam - se em 400 a 500 carradas
de lousas que dali saem annualmente, algumas para freguesias
muito distantes. É esta a maior riqueza de Canellas
"
As lousas vieram substituir o colmo na cobertura de
quase todas as casas de Canelas e das freguesias mais
próximas.
A visita recente do arqueólogo António
P. Silva à Freguesia de Canelas considerou lugares
de interesse para possíveis estudos sobre o passado,
o "Campo da Arrochada" o "Calhau Pedreiro"
e o "Forno da Telha".
Pessoas importantes de Canelas
- O Dr. Manuel Joaquim Soares de Figueiredo
, nascido na casa do Toiral no ano de 1800 e que faleceu
com 50 anos de idade na sua Quinta de Real. Quem o consultou
podia dizer do seu talento. Rico e muito, dizem que
ele era. O que lhe trouxe a morte consta que fora a
nomeação para administrador do concelho
de Paiva.
Cada um pensa com a cabeça que
tem! Se fosse eu, até faria algum voto à
Sra. da Canhota.
- Na mesma casa do Toiral existiu o
Capitão de milícias chamado José
Soares pai do dito doutor. Faleceu no ano de 1827.
- No lugar de Baixo existiu o cirurgião
José Theodorio, que morreu em 1820.
- No lugar do Vau, nasceu a 18 de Janeiro
de 1839, Manuel Mendes Pereira de Vasconcelos, que recebe
ordens menores em Lamego no ano de 1854, parte para
o Brasil e ordenou-se em subdiácono em 1866 na
cidade de Marianna, de diácono em 1867 de presbítero
no mesmo ano, sendo despachado para vigário de
Cattas Altas em 1868 e em 1872 era vigário pedaneo
( arcypreste ) da comarca de Cattas Altas.
- João Joaquim Soares de Figueiredo,
nascido no ano de 1808 foi dono da Quinta do Toural.
Em meados do séc XIX instala-se definitivamente
na casa do Correia em Canelas de Baixo, talvez influenciado
pelas tentativas de assalto que esta Quinta estava a
sofrer, devido ao isolamento da mesma. Possuidor de
grandes propriedades neste concelho e no de Castelo
de Paiva, foi o oitavo maior pagante de décima
no Concelho de Arouca, o que demonstra a riqueza das
suas posses. Foi também vereador da Câmara
Municipal de Arouca desde o ano de 1839 a 1872.
- Padre Manuel Ferreira dos Santos
mais conhecido por Padre Bogas, foi padre nesta freguesia
durante 35 anos, era natural de S. Roque, Oliveira de
Azeméis.
Homem de cultura avançada para a época,
pregador por excelência, grandes obras realizou
a seu cargo para beneficio do povo, foi Presidente da
Junta, compôs os caminhos velhos e fez alguns
novos, acompanhando pessoalmente os homens que prestavam
o serviço braçal, construiu a ponte do
Reivô, o cemitério, etc.
Republicano de gema, sofreu o desprezo dos seus colegas,
pelas suas ideias e por ter aceite uma renda do estado,
faleceu na miséria no ano de 1924, foi sepultado
no cemitério de Canelas.
No ano de 1997 a Junta de Freguesia e um grupo de cidadãos
prestaram-lhe homenagem no local onde repousa, edificando-lhe
um mausoléu.
- Dr. Maurício Esteves Pereira
Pinto, natural de Canelas nasceu no ano de 1924, fez
os seus estudos primários na sua terra e vizinha
Freguesia de Alvarenga.
Os estudos secundários fê-los no Porto.
Licenciou-se na Faculdade de Medicina da Universidade
do Porto em 1950, iniciando nesse mesmo ano a sua clínica
em prol dos mais desprotegidos da Freguesia de Campanhã,
bem como dos naturais da sua terra que se socorriam
a ele como grande salvador.
Com uma vida profissional notável, pelos sítios
onde passou deixou sempre um rasto de carinho e amizade
profunda, tendo proferido a certa altura as seguintes
palavras: « A medicina não é mais
uma profissão para dar lucro, é um trabalho
em prol dos outros»
Durante a sua vida profissional foi alvo de inequívocas
manifestações de apreço e gratidão,
ora por parte da população anónima
ora por parte das associações para que
tanto trabalhou.
Faleceu tragicamente de acidente de viação
no dia 24 / 6/75, quando muito ainda tinha para dar
aos seus doentes.
Após a sua morte, no dia 17 / 12/75 o povo de
Campanhã presta-lhe uma homenagem póstuma,
descerrando-lhe uma placa toponímica com o seu
nome numa rua. No dia 1 de Maio de 1977 é-lhe
descerrado um busto na praça da Corujeira com
a seguinte inscrição: «Ao Dr. Maurício
Homenagem do povo» .
No dia 19 de Junho de 1987 a Câmara
Municipal do Porto, concede-lhe a medalha de altruísmo-Ouro
( a título póstumo ).
A Câmara Municipal de Arouca
também lhe prestou homenagem ao atribuir o seu
nome a uma das ruas da Vila.
No ano de 1993 a Junta de Freguesia
de Canelas também lhe presta homenagem, descerrando
uma placa comemorativa na casa onde nasceu. |